Família > Dinâmica familiar | |
Sandra Merlo
Os pais de pessoas que gaguejam são alvo de diversos estereótipos sociais. Seriam pais dominadores, superprotetores, com altas expectativas, perfeccionistas, com sentimentos de rejeição e avaliações indesejáveis sobre a personalidade do filho que gagueja. Este estereótipo provém da teoria diagnosogênica da gagueira proposta inicialmente por Wendell Johnson. A teoria diagnosogênica teve início na década de 1940 e tinha como hipótese a existência de um ambiente familiar pressionador, onde os pais estariam altamente sensibilizados em relação à fala dos filhos. Isto devido à história familial para gagueira ou por serem pais guiados por atitudes perfeccionistas e por altos padrões de exigência para si próprios e para seus filhos. Com esta atmosfera familiar como pano de fundo, Johnson acreditava que chamar a atenção da criança para sua fala seria a causa imediata da gagueira, fazendo com que hesitações comuns se transformassem em gagueira. Uma vez que era atribuída aos pais grande parte da responsabilidade pela gagueira, eles eram o alvo principal da terapia de aconselhamento, a qual tinha o objetivo de evitar que a criança se tornasse consciente das hesitações e de modificar a atitudes pressionadoras dos pais. Felizmente os avanços científicas já mostraram que os pais não são os responsáveis pela gagueira do filho. Entretanto, determinadas atitudes familiares podem piorar a gagueira. Por isso, é extremamente importante que os pais adotem atitudes que promovam a fluência. Em que tipo de família cresce uma pessoa que gagueja? O dado mais sólido em relação às diferenças entre famílias com e sem pessoas que gaguejam está na história familial para gagueira: metade das pessoas que gaguejam têm pais, irmãos, filhos, tios, primos, avós e/ou netos com gagueira. Crianças que gaguejam têm maior probabilidade de crescerem em:
Essas características não seriam causadoras da gagueira: seriam fatores complicadores, que aumentariam as condições que levam às dificuldades de fluência, ao pior desempenho escolar e às tendências ao retraimento. O que os pais acham de seu filho que gagueja? Pesquisas indicam que os pais apresentam fortes tendências a adotar opiniões menos favoráveis em relação ao filho que gagueja. De forma geral, os pais vêem seu filho que gagueja como nervoso, irritado, teimoso, imaturo, com complexo de inferioridade e pouco sociável. Além disso, os pais acreditam que a gagueira ocorre devido a esses traços de personalidade. É importante deixar claro que essas opiniões não causam a gagueira do filho, mas contribuem para piorar a gagueira e as conseqüências emocionais que advêm dela. O que o filho que gagueja acha de seus pais? Pesquisas indicam que as pessoas que gaguejam sentem-se distantes dos pais, acham que recebem pouco afeto, que desapontam seus pais, que têm pais muito punitivos, não se sentem realmente aceitas e se sentem subestimadas em relação à maturidade.
Referência bibliográfica: YAIRI, Ehud. (1997). Home environments and parent-child interaction in childhood stuttering. In: Curlee, Richard F. & Siegel, Gerald M. (eds). Nature and Treatment of Stuttering: New Directions. 2nd ed. Boston: Allyn and Bacon. p. 24-48. |
|
Voltar |
"Instituto Brasileiro de Fluência - IBF" Todos os direitos reservados. |