Bibliografias Sugeridas > Resenha do Livro: Stuttering | |
KALINOWSKI, Joseph & SALTUKLAROGLU, Tim. Stuttering. San Diego: Plural Publishing, 2006.
Em seu livro, os autores (respectivamente, ex-orientador e ex-orientando de Ph.D da East Carolina University, EUA) descrevem o processo de gagueira considerando a sua hipótese acerca do que provoca o fenômeno em termos cerebrais. A par disso, os autores preocupam-se em evidenciar a multifatorialidade do processo de gagueira relativamente ao encadeamento dos seus sintomas, situando-os em três níveis, descritos abaixo. O primeiro nível do processo é reconhecido como sendo o dos acontecimentos não-perceptíveis quando se observa a pessoa que gagueja: esses acontecimentos estariam, em princípio, relacionados ao funcionamento cerebral, onde ocorreria um bloqueio neural que desencadearia os demais fenômenos e comportamentos relacionados à gagueira. As manifestações deste nível referem-se às alterações neurais em si, acrescidas da chamada gagueira encoberta (covered stuttering), que se resume no conjunto de comportamentos construídos por quem gagueja para não aparentar sua gagueira, como substituições de palavras, mudança da ordem das palavras, estratégias para falar ao telefone e em público etc. Estes comportamentos demandam um significativo desgaste mental e psicológico, além de ser a causa para o surgimento, do bloqueio de fala, criado ainda nos primeiros anos de idade, para evitar as repetições e prolongamentos que na sua visão parecem desagradar aos outros. O segundo nível abarca a gagueira subperceptual, circunscrita aos seus aspectos motores e apenas detectada por instrumentos capazes de avaliar acústica e articulatoriamente a fala gaga gaguejada. Neste nível, já emergem os fenômenos derivados do bloqueio central defendido pelos autores, e que são ainda imperceptíveis às pessoas, mas que denunciam a sofisticação do conjunto de manifestações relacionadas à gagueira, as quais estão dispostas de forma contínua - do cerebral ao motor imperceptível, e por fim ao motor claramente perceptível. O terceiro nível compreende justamente esta terceira forma de detecção da gagueira - os comportamentos claramente perceptíveis, tomados pela grande maioria das pessoas como sendo os únicos sintomas dessa disfunção: pela ordem de ocorrência, as repetições de material lingüístico, os prolongamentos e os bloqueios (estes últimos derivados do surgimento dos comportamentos encobertos da gagueira). Porém, muito embora os autores reconheçam os diversos níveis de manifestação da gagueira em todas as pessoas que a portam, a hipótese por eles apresentada é a de que o bloqueio neural é o ponto para onde convergem todos os acontecimentos relacionados a esta disfunção. Portanto, se encontrada uma forma de suprimir esse bloqueio, a pessoa não mais gaguejará nos três níveis por eles definidos - não revelará uma gagueira subperceptual, nem gagueira encoberta, tampouco a gagueira perceptível. Seguindo esta hipótese, os autores propõem a observação da chamada fala em coro (choral speech), já definida brevemente acima: trata-se do fenômeno em que todas as manifestações de gagueira cessam quando a pessoa que gagueja fala em uníssono com outras. No nível cerebral, a fala em coro estaria diretamente ligada aos chamados neurônios-espelho (mirror neurons), cujo acionamento tem a particularidade de ocorrer quando experienciamos alguma cena, ação, fato etc., e, igualmente, quando vemos outra pessoa experienciar a mesma cena, ação ou fato. Para Kalinowsky & Saltuklaroglu, o poder de neutralização que a fala em coro tem sobre a gagueira reside neste tipo de neurônio, na medida em que, por sua ação, a pessoa tende a imitar os padrões da segunda fala que com a dela é simultânea. Dessa forma, no entender dos autores, a ação terapêutica sobre a gagueira deve levar em conta este fator. Nesse sentido, isto é, a fim de discutir terapias possíveis para a gagueira, a parte final do livro é dedicada a descrever a ação do chamado DAF (Delayed Auditory Feedback - retroalimentação auditiva atrasada), mecanismo que reproduz a fala da pessoa que gagueja com um atraso mínimo, numa espécie de eco, a fim de que cada um ouça a própria voz como se fosse a de outra pessoa, criando-se assim, artificialmente, a fala em coro capaz de liberar o bloqueio neural e as demais manifestações de gagueira. Para a elaboração do Speech Easy®, combinou-se o DAF ao FAF (Frequency Altered Feedback - retroalimentação com alteração de freqüência), que promove mudança no tom da fala da própria pessoa, que percebe os sons que pronuncia de forma bastante alterada. Pesquisas realizadas desde 2001, ano da invenção do aparelho, são descritas a fim de que os leitores possam obter informações acerca das características e do funcionamento do aparelho. Em relação a isso, os autores afirmam que a maior parte dos usuários do aparelho está plenamente satisfeita com seu nível de fluência, mas isso não os impede de discutir no livro algumas outras formas de tratamento para a gagueira combinadas ao Speech Easy®.
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