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Sofrimento subjetivo associado à gagueira persistente Subjective distress associated with chronic stuttering Síntese: Ana Maria Oliveira[1] As primeiras teorias sobre a etiologia da gagueira assumiram que essa seria um distúrbio psicogênico, causado por necessidades infantis e hostilidade reprimidas. Mais tarde, sugeriu-se que a gagueira fosse resultado de elevados níveis de ansiedade, hipótese baseada nas teorias de enfrentamento/evitação ou luta antecipatória nas situações de fala. Entretanto, não há nenhuma evidência convincente disponível que dê suporte a essas teorias. Pesquisas mais recentes apontam a gagueira como resultado da desordem no sistema neural de controle sensório-motor da fala, relacionada a uma predisposição hereditária. Essas teorias de anormalidades neurofisiológicas pressupõem que qualquer presença elevada de psicopatologias em uma pessoa que gagueja (como ansiedade social) provavelmente seja resultado do impacto negativo e adverso em sua vida, imposto pelo distúrbio crônico da fala. Uma pesquisa demonstrou que a extensão do impacto negativo da gagueira na vida de uma pessoa que gagueja, seria comparável ao impacto de uma desordem neurológica, como lesão medular traumática, ou doenças como diabetes e doença cardíaca coronária. Outras pesquisas têm encontrado níveis consideravelmente elevados de estresse, ansiedade e fobia social nas pessoas que gaguejam quando comparadas a grupos de pessoas que não gaguejam. A pesquisa apresentada neste trabalho buscou esclarecer se os adultos que gaguejam apresentam ou não elevados índices de humor negativo. Foram investigados dois grupos de adultos do mesmo sexo e idade, na Austrália. Eram 200 adultos que gaguejavam desde a infância, comparados a 200 adultos sem alteração de linguagem, que formaram o grupo controle. As pessoas que gaguejavam foram recrutadas nos grupos de autoajuda, nas clinicas fonoaudiológicas privadas, nos consultórios clínicos, nos departamentos de fonoaudiologia dos hospitais públicos e dos centros de saúde, sendo que 87% desses adultos veio dos grupos de autoajuda. Os participantes foram entrevistados por três horas, em um ambiente descontraído. A conversa foi gravada para determinar a frequência da gagueira. Posteriormente, preencheram uma série de questionários psicológicos padronizados, e em seguida foi realizada uma entrevista estruturada, que solicitou informações sobre a influência da gagueira em suas vidas. Constatou-se que o grupo de pessoas que gaguejam apresenta níveis significativamente elevados de humor negativo, como sensibilidade interpessoal (sentimentos de inadequação e inferioridade), ansiedade (sentimentos de nervosismo e tensão) e ansiedade fóbica (medo persistente de resposta a uma determinada pessoa ou lugar). A capacidade do indivíduo de se comunicar fluente e e eficazmente é uma parte integrante da vida de uma pessoa e é fundamental para uma autoestima saudável. Portanto, quando a habilidade de se comunicar é ameaçada e comprometida, é concebível que os sintomas de sensibilidade interpessoal, ansiedade e ansiedade fóbica se desenvolvam. Esses resultados fornecem uma direção nova e importante para melhor compreensão do impacto do humor negativo de uma doença crônica como a gagueira, assim como do seu manejo clínico. Os dados sugerem que a gagueira pode ser uma condição muito tóxica, que resulta em estados negativos de humor, diferentes de ansiedade social. Observou-se que esse impacto negativo da gagueira independe de sua severidade. Os autores propõem que o tratamento deve abordar os aspectos fundamentais da afetividade negativa, além dos que se referem à ansiedade social, conforme sugerido em estudos anteriores.Isto inclui uma série de sintomas que raramente são abordados de uma forma estruturada no tratamento tradicional da gagueira. Essa série engloba, por exemplo: Devido ao risco elevado do desenvolvimento desses sintomas nas pessoas com gagueira persistente, é importante realizar, nos adultos que procuram tratamento para a gagueira, uma triagem que inclua em sua investigação a pesquisa dos sintomas de humor negativo, além dos de ansiedade social. Sugere-se, também, a inclusão no tratamento para gagueira, de componentes cognitivos comportamentais que se concentrem em áreas que promovam a ativação de habilidades de enfrentamento, (em substituição às formas emocionais de lidar com situações de estresse de fala), melhorando a regulação das emoções e as habilidades de relacionamento interpessoal. [1] Ana Maria do Carmo Carvalho de Oliveira (CRFa 7242/DF), formada em Serviço Social (UnB), e em fonoaudiologia (CESUBRA), especialista em Linguagem, pelo CEFAC (Título no. 3718/07), especializada no tratamento dos distúrbios da fluência e autora de artigo sobre fluência. Contato: anamariafono@yahoo.com.br |
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