Releases > Gagueira: discriminação ou inaptidão? | |
A carta abaixo foi escrita em resposta ao texto de opinião “Eficiência é possível?”, escrito pelo psicólogo Marcos Norabele.
Prezado psicólogo Marcos Norabele, Escrevo esta carta em nome do “Instituto Brasileiro de Fluência – IBF”. Meu nome é Sandra Merlo, sou uma pessoa que gagueja, fonoaudióloga, doutora em linguística e diretora científica do IBF. Lemos seu artigo de opinião chamado “Eficiência é possível?” e consideramos que você coloca pontos interessantes sobre o tema da contratação de pessoal qualificado. Nossa motivação em escrever esta carta refere-se ao fato de você ter citado a gagueira em seu artigo. Destacamos o seguinte trecho do seu texto:
Respondemos, sem titubear, que a resposta do repórter foi discriminatória. E vamos explicar por que: porque uma das características intrínsecas da gagueira é o fato de ela oscilar, ou seja, há momentos em que a pessoa tem maior fluência e há outros em que tem menor fluência. Por isso, nada impede que uma pessoa com gagueira que seja repórter fale com fluência durante a locução no rádio ou na televisão. É característico da gagueira diminuir quando ocorre fala menos espontânea ou ensaiada. E isso não é apenas uma hipótese remota, não. Há casos que comprovam o que estamos dizendo. Por exemplo, o radialista Antonio Carlos Trommer Resende tem gagueira e inclusive já falou sobre o assunto publicamente (veja aqui). O jornalista Paulo Francis também gaguejava e alguns atribuem sua fala característica na televisão à tentativa de inibir a ocorrência de gagueira (veja aqui). E também podemos citar os atores Murílio Benício e Malvino Salvador, que gaguejam ao falar espontaneamente, mas que não gaguejam ao representar personagens em suas profissões (veja aqui e aqui). Portanto, o equívoco do seu colega repórter é assumir que uma pessoa com gagueira sempre gagueja, o que não é verdade. Por isso, a exclusão automática de quem gagueja de profissões que utilizem a fala é discriminatória. Somente uma avaliação mais cuidadosa e individualizada poderá indicar se aquela pessoa em específico está apta ou não para exercer a atividade. Se, durante a atividade de locução, a gagueira não ocorrer, não vemos por que vetar o candidato. Por outro lado, se a gagueira ocorrer e atrapalhar o exercício da função, aí poderá ser considerada como inaptidão para aquele determinado cargo. Mas também nada impede que uma pessoa considerada inapta hoje, melhore e seja considerada apta daqui a algum tempo. Agradecemos a atenção, Drª Sandra Merlo
COMPLEMENTOSegue entrevista com Rosental Calmon Alves, considerado um dos melhores jornalistas brasileiros. Como pode ser percebido no vídeo abaixo, Rosental Alves gagueja. Mas a gagueira não o impediu de atuar como repórter, redator, editor e professor.
|
|
Voltar |
"Instituto Brasileiro de Fluência - IBF" Todos os direitos reservados. |