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O Jogo da Culpa

Brooke Leiman¹

Tradução: Anelise Junqueira Bohnen² 

 

Embora os pesquisadores estejam gradativamente aprendendo mais sobre a gagueira e suas causas, ainda há muito sobre ela que permanece um mistério. Esse desconhecido possibilita aos pais espaço  para tentativas de preencher as lacunas com as suas próprias suposições sobre o que determinou ao seu filho para que começasse a gaguejar. Uma das perguntas que eu mais frequentemente ouço dos pais é:  É alguma coisa que eu fiz?

A resposta é um sonoro NÃO!

O QUE SABEMOS ATÉ AGORA                                                                                                         

 De acordo com a Fundação Americana de Gagueira, existem quatro fatores que provavelmente desempenham um papel no desenvolvimento da gagueira. A hipótese é que a combinação desses fatores pode resultar em uma criança com uma predisposição para a gagueira.                

1. Genética: cerca de 60% das pessoas que gaguejam têm um familiar próximo que também gagueja. Além disso, uma pesquisa recente realizada pelo Dr. Dennis Drayna identificou três genes como fonte de gagueira nas famílias estudadas.                                                                  

2. Neurofisiologia: Estudos com imagens sobre a neurofisiologia do cérebro indicaram que pessoas que gaguejam podem processar linguagem em diferentes áreas do cérebro quando comparadas com pessoas que não gaguejam.                                                                               

3. Desenvolvimento Infantil: crianças com atrasos de desenvolvimento ou outros distúrbios da fala / linguagem são mais propensos a gaguejar. (Nota: De nenhum modo isso quer dizer que todas as pessoas que gaguejam têm atrasos em outras áreas. Há simplesmente um aumento da probabilidade de gagueira em crianças com atrasos de desenvolvimento e distúrbios de linguagem).                                                                                                                                                  

4. Dinâmica familiar: expectativas muito altas e estilo de vida acelerado podem desempenhar um papel na gagueira.

 

Dinâmica Familiar??! Pensei que eu NÃO fosse a causa??


Você não é! Há muitas famílias com estilo de vida acelerado por aí, e não tem filhos que gaguejam. No entanto, certos ambientes podem exacerbar as disfluências em uma criança que já tem uma maior propensão a gaguejar.

Isso não significa que você tem que baixar as suas expectativas para a sua criança ou tirá-la de suas atividades extracurriculares. No entanto, existem algumas alterações que podem ajudar. Embora eu aconselhe aos pais a não dizer a uma criança para ter calma ou relaxar, eu sugiro diminuir o seu próprio ritmo de expressão e inserir mais pausas durante a fala. Isso diminui a pressão do tempo e mostra uma forma mais descontraída de falar. Indique que você está ouvindo sua criança mantendo o contato visual e tentando reservar algum tempo durante o dia para lhe dar atenção. Tente o seu melhor para reduzir as interrupções. Isso pode ser mais fácil de dizer do que fazer e não se culpe se nem sempre for bem sucedido, especialmente se há irmãos envolvidos! Nos dias em que sua criança está com dificuldade, diminuir a quantidade de perguntas e as demandas de linguagem (por ex.:  diga para a vovó o que fizemos ontem) é uma boa ideia. Deixe sua criança iniciar a conversa quando ela quiser. Mantenha as suas expectativas altas, mas dê uma pausa para sua criança em dias difíceis!

 

Se eu não sou culpado (a), então por que minha criança gagueja mais em casa e perto de mim?                                                                                                                     

Embora, certamente, isso não seja verdadeiro para todos, muitos dos meus clientes afirmam que suas crianças gaguejam mais em casa. Ao contrário do que muitos pais acreditam, isso geralmente é uma coisa positiva e não um sinal de que estão fazendo algo errado! O que esses pais estão presenciando é gagueira aberta. “Gagueira aberta” ocorre quando uma criança (ou adulto) fala livremente sem esconder, evitar, substituir palavras ou dar “curvas” para tentar sair de um momento de gagueira. Em vez de sentirem-se responsáveis por este aumento de disfluências, os pais devem ser elogiados por criarem um ambiente favorável que permite que sua criança seja ela mesma e a incentive a se expressar, com ou sem gagueira. Na escola ou em torno dos colegas sua criança pode não gaguejar tão frequentemente. No entanto, este pode ser um resultado de comportamentos de fuga, como trocar palavras ou optar por falar menos. Estes comportamentos de fuga podem ser desgastantes e frustrantes! O lar deve ser um lugar para sua criança fazer uma pausa do evitar e dizer exatamente o que quer dizer quando quer dizer (mesmo que isso signifique demorar um pouco mais de tempo para falar!).

 

Mas, e sobre as técnicas de meu filho está aprendendo na Fonoterapia?                             

As estratégias que sua criança está aprendendo com o seu fonoaudiólogo são extremamente valiosas para dar-lhe uma maneira de recuperar algum controle sobre sua fala, especialmente ao entrar em uma situação difícil (ou seja, leitura em voz alta, apresentação oral, apresentando-se, etc.). No entanto, nessas horas cabe a ela optar por quando e se usará suas ferramentas de fala. Ela deve ser elogiada quando pratica ou usa suas técnicas, mas também deve ser elogiada pela “gagueira aberta”! Pode não ser fácil, mas você como pai ou mãe deve resistir à tentação de sentir (ou expressar) decepção quando sua criança  gagueja. Fique orgulhoso que quando ela começa a gaguejar, ela está optando por continuar a falar e ser ouvida.

 

Veja aqui a versão em inglês: http://www.stutteringsource.com/1/post/2013/07/the-blame-game.html#.Ud2KYPnVBrs

 

¹Brooke Leiman, MA, CCC-SLPé Supervisora Clínica  na área da Fluência no National Speech Language Therapy Center, em Bethesda, Maryland, USA. Brooke tem um blog  para informar  pessoas sobre gagueira e sobre terapia para gagueira: www.stutteringsource.com . Ela também por ser contatada em: Brooke@nationalspeech.com.                                                                   

²Anelise Junqueira Bohnen, Dra, CRFa5587/RS, fonoaudióloga clínica com experiência em distúrbios de fluência e atual presidente do Instituto Brasileiro de Fluência – IBF.

   
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