Neurociências > Lesão neurológica

Sandra Merlo
Fonoaudióloga
Instituto Brasileiro de Fluência - IBF

 

Muitas vezes a gagueira ocasionada por lesão neurológica é chamada de gagueira neurogênica ou gagueira adquirida. Esses termos não são bons, porque podem dar a entender que não existe comprometimento neurológico na gagueira ocasionada por herança genética.

Acredita-se que aproximadamente metade das gagueiras iniciadas na infância sejam em decorrência de lesão cerebral precoce nos núcleos da base (ou em regiões que se conectam a eles). Indícios de ocorrência de lesão cerebral precoce incluem: hipóxia pré ou perinatal, prematuridade e concussão cerebral (traumatismo craniano fechado com estado alterado de consciência).

Crianças que gaguejam e que apresentam indício de lesão neurológica costumam ser mais desatentas e/ou hiperativas do que a média, exibindo traços do transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), mas geralmente sem um número suficiente de sintomas para caracterizar um quadro clínico de TDAH.

A lesão nos núcleos da base (ou em regiões que se conectam a eles) também pode ocorrer na idade adulta. A lesão tende a ser originada por acidente vascular cerebral (derrame cerebral), traumatismo craniano ou doenças neurodegenerativas (como esclerose múltipla). O início da gagueira tende a ser abrupto, geralmente sendo verificado logo após a ocorrência da lesão. Se a lesão for extensa, comprometendo diversas estruturas cerebrais além dos núcleos da base, a fluência tende a não melhorar significativamente em situações como canto, leitura em coro e feedback auditivo atrasado. A pessoa geralmente está consciente de seu distúrbio de fala. As hesitações/disfluências gaguejadas mais comuns tendem a ser as repetições de sílabas e os prolongamentos iniciais de sons; bloqueios tendem a ser mais raros. Os comportamentos acessórios e os comportamentos de fuga e evitação tendem a ser pouco frequentes.

 

Referências bibliográficas:

ALM, Per A. (2005). On the Causal Mechanisms of Stuttering. PhD thesis, Lund University (Sweden).

ALM, Per A. (2004). Stuttering and the basal ganglia circuits: a critical review of possible relations. Journal of Communication Disorders 37, p. 325-369.

   
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