Tratamentos > Tratamento medicamentoso

Pedro Gomes de Alvarenga (médico psiquiatra) & Sandra Merlo (fonoaudióloga)

 

1) Que medicações são utilizadas no tratamento especializado da gagueira?

  • Bloqueadores dos receptores beta-adrenérgicos, como o propanolol. Esta classe de medicamentos bloqueia os receptores de adrenalina do tipo beta. Esses medicamentos controlam os sintomas físicos de ansiedade e são eficazes apenas diante de situações específicas, como antes de uma reunião ou antes de proferir uma palestra.
  • Inibidores seletivos de recaptura de serotonina (ISRS), como a fluoxetina e sertralina (as mais estudadas). Esta classe de medicamentos promove um aumento na concentração do neurotransmissor serotonina na fenda sináptica devido ao bloqueio da recaptação da serotonina pelos neurônios pós-sinápticos, atuando provavelmente de duas maneiras em relação à gagueira:
    • O aumento da serotonina inibe a ação da dopamina, o que facilitaria a resposta motora da fala.
    • A regulação do sistema serotoninérgico diminui a ansiedade que freqüentemente acompanha a gagueira.
    • A regulação do sistema serotoninérgico atuaria na diminuição de sintomas obsessivo-compulsivos típicos da gagueira (por exemplo, os pensamentos fixos em relação ao desempenho de fala, o temor excessivo diante de certos sons e/ou palavras, as previsões catastróficas das conseqüências sociais da gagueira).
  • Neurolépticos atípicos, como a risperidona (a mais estudada). Esta classe de medicamentos bloqueia parte dos receptores D2 do neurotransmissor dopamina, diminuindo a entrada de dopamina nos neurônios pós-sinápticos, atuando provavelmente de duas maneiras em relação à gagueira:
    • Facilitando a resposta motora da fala.
    • Inibindo vocalizações e movimentos estereotipados e indesejados durante a fala (por exemplo, piscar ou fechar os olhos, fazer caretas faciais, levantar os ombros, fazer movimentos bruscos com a cabeça, grunhir, protruir a língua).

2) As medicações podem produzir efeitos colaterais?

Todas as medicações podem produzir efeitos colaterais, devendo, sempre, serem prescritas por médicos. No caso dos ISRS, os efeitos colaterais mais freqüentes incluem insônia, sonolência, ansiedade, tremores, fadiga, náuseas e diarréia. Entretanto, a maioria destes efeitos colaterais remite em algumas semanas. Alguns pacientes referem disfunções na esfera sexual durante o uso crônico de ISRS. No caso dos neurolépticos atípicos, os efeitos colaterais mais freqüentes incluem sonolência, cefaléia, fadiga e ganho de peso. Poucos pacientes desenvolvem arritmias e sintomas extrapiramidais, como tremores, rigidez, acatisia (ansiedade física e psíquica), distonia aguda (contração violenta de grupos musculares) e discinesia tardia (movimentos estereotipados que acometem a musculatura facial/oral). O acompanhamento médico, incluindo exames laboratoriais e eletrocardiograma, sempre deve ser realizado. 

3) É necessário utilizar os remédios durante toda a vida?

 Os remédios têm efeito enquanto são utilizados. Portanto, para manter a melhora na fluência, o uso deve ser contínuo. Entretanto, o remédio também pode facilitar o tratamento fonoaudiológico e/ou psicoterapêutico e, após ganhos nessas duas esferas, pode-se experimentar retirar as medicações. 

4) A toxina botulínica (botox) pode ser utilizada no tratamento da gagueira?

Não, porque os músculos envolvidos na gagueira não estão restritos a um pequeno conjunto de músculos (como é o caso da disfonia espasmódica, que acomete apenas os músculos da laringe).

5) Como escolher um médico capacitado para o tratamento da gagueira?

Dê preferência para psiquiatras especializados em transtornos do espectro obsessivo-compulsivo* (infantil ou adulto) bem como para neurologistas especializados em distúrbios do movimento (infantil ou adulto).

 

* Os transtornos do espectro obsessivo-compulsivo incluem os sintomas obsessivo-compulsivos e os tiques (motores e vocais).

   
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